A sua saudade mora no passado?

Vini Lima
2 min readApr 17, 2018

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Existe toda uma aura mágica em torno de um grande sentimento humano: a saudade. E para quem fala português, tem aquela história de que é o único idioma que possui uma só palavra para defini-la — o que eu acredito ser mais uma das coisas que se tornam senso comum mas são na verdade, balela. Independente de quantos idiomas falam a língua da saudade, o que eu vim trazer aqui é uma reflexão que tive há anos — e que pra variar, levei todo esse tempo para transformar em texto — sobre essa sensação de vazio que nos acomete invariavelmente.

O rompante me veio durante uma viagem que fiz para Bonito, enquanto esperava a van que me levaria para a cidade, no aeroporto de Campo Grande. Se a saudade fosse uma luz de pisca-pisca, aeroportos e terminais rodoviários seriam tão iluminados quanto o Universo durante o Big Bang. Ali, as saudades se misturam: a saudade de quem ainda nem partiu e a de quem acabou de voltar. Por isso eu amo a música Encontros e Despedidas — que conheci pela voz da Maria Rita.

São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também de despedida

E foi nesse oceano de saudade que a minha própria desembocou e me fez perceber algo: não sentimos saudades da pessoa. Não sentimos saudades de lugares. Nem de períodos da nossa vida.

Sentimos saudades de como uma pessoa fazia nos sentir. Sentimos saudades de quem éramos quando estávamos em um lugar ou em tal período.

Saudade é sentir falta de você mesmo.

E essa diferença de visão é brutal para quem sofre de nostalgia aguda como eu. Porque a partir do momento que você entende isso — que sente falta do efeito e não da causa — descobre que poderá encontrar outras pessoas que farão você se sentir da mesma forma que sente falta. Poderá visitar lugares ou entrar em novos ciclos da sua vida que farão você se reencontrar com a sensação que tanto lhe falta.

Com essa visão, a saudade para de ser um sentimento apenas ligado ao passado. Ela também se conecta com o seu presente e, principalmente, com o seu futuro.

Numa estrada, se você dirige todo o tempo olhando apenas para o retrovisor, a chance de ter um acidente de percurso é grande. Mas você também não precisa arrancá-lo. Se você quer chegar ao seu destino, é importante vez ou outra olhar para trás. Mas sempre pensando na chegada e não no ponto de partida ;)

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Vini Lima

34. Filósofo de boteco. Acredita que a empatia é a única salvação do mundo. Ou seja…